“Pisou-o…
3 centímetros da ponta de uma sola de borracha fina, soprepõe-se durante 0,37 segundos, a uns estranhos sapatos (42) de pele, já coçada...
Por entre a espuma de fumo (com cheiro a bolachas “Maria” ) que tornava as figuras humanas em vultos, distinguiu a silhueta perfumada de uma “moça”.
Voltou-se, virou-se, rodou...sorriu!
E no escasso tempo , entre duas “semi-colcheias” de uma qualquer música silenciosa, articulou no vácuo daquele amplo espaço, a palavra “desculpa”. Procurou simultaneamente complementar esse monólogo, com o adorno do habitual levantar de mão ( com a palma virada para o chão de mosaico ), em sinal de preocupação.
Ele anuiu...e continuou na rotina da “dança anexada à música”, de copo na mão direita, tentando demonstrar ( fingindo ) que tudo aquilo era banal, e que a música e a dança ainda fazia sentido, apesar das “semi-colcheias” terem passado a “semi-breves”, e nos 3 segundos consequentes a “breves”...pausadas em uníssono.
Os corpos agora estavam mais pertos, mas de costas voltadas, demonstrando que eram duas pessoas desconhecidas, e que preferiram manter naqueles 5 segundos posteriores, uma certa distância ( não superior a 15 cm ).
Nova pisadela...com os mesmos intervenientes, a desempenharem estranhamente o mesmo papel.
“I wouldn´t know what to do with another chance
If you gave it to me”
Novo sorriso, e consequente “Desculpa outra vez!”
Promove-se o “quase contacto”...e entre eles passa agora um fio de cabelo castanho claro. Sob o fumo que progressivamente se ia dissipando, descobrem-se duas mãos, que se tocam “acidental e repetidamente”. As mãos envergonhadas juntam-se...puxam-se os corpos daquele casulo, onde freneticamente continuam a dançar outros alvos de futuras pisadelas.”
“How can I fight, when we´re on the same side
How can I fight beside you”
P.s. – Ainda hoje tenho “o relógio que tu me deste”...mas já não o uso.