É amanhã que temos cá, provavelmente a mais antiga banda de rock-n-roll “viva”....em Portugal...em Coimbra.
Finalmente, e a preceito de uma inauguração de um estádio novo ( deveria ser uma recuperação do velho, mas desse nem as “stones” se percebem...e oito milhões não é valor de restauro! ), com a pompa e circunstância que os nossos políticos gostam de assinalar, substituiram o tradicional fogo de artifício ( estamos em época de incêndios, a festa da Raínha Santa também necessita e há que continuar e prolongar a crise dos nossos “engenheiros pirotécnicos” ) e o jogo de bola ( deixado para segundo plano, dia 29 de Outubro – Académica – Benfica ), por um concerto de dimensão planetária.
Prestigiará desta forma o nosso país, e sobretudo uma cidade que, apesar da sua inegável centralidade a variadíssimos planos ( territorial, sociológico, saudosista, cultural...ah pois, esqueceram-se que Coimbra é capital nacional da Cultura em 2003 ) tem sida arredada, espezinhada e maltratada ( consciente ou inconscientemente ) por aqueles que “accionam” as luzes da ribalta.
E a minha indignação, advém do facto de não arranjar respostas para essa submissão ao Porto e Lisboa, sobretudo porque, e a este nível de espectáculos ( espectáculos ou concertos musicais ), muitas vezes são efectuados em locais sem o mínimo de condições de insonorização, comodidade, e sobretudo, pela falta de apoio logístico...para não falar de que, Coimbra tem maioritariamente uma população residente estudantil jovem, que é ( normalmente ) o público alvo da grande maioria dos concertos que vão pulvilhando o nosso belo país à beira-mar plantado.
Acreditando porém que esta atitude de desprezo pelas cidades não-Porto-Lisboa ( coloco Porto primeiro para provocar as hostes...), não sendo premeditada, é confrangedora para todos aqueles que se têm de deslocar sistematicamente, quando querem assistir a um bom espectáculo, porque não tem justificação absolutamente nenhuma. As razões ( e porque já trabalhei no meio ) são unicamente de ordem económicas, e baseadas em pressupostos mais simples/básicos do que se julga, e introduzidas pelas empresas organizadoras dos espectáculos:
- Os apoios financeiros, de patrocínios, e comunicação social em geral, consegue deslocar muito mais meios ( financeiros e logísticos ) para estas duas cidades;
- O grau de risco, “de não estar cheio”, é menor, num concerto nestas cidades, porque qualquer banda sem projecção, tem aqui, quase sempre um grupo de culto que os conhece ( ora sendo as cidades maiores, obviamente este grupo é proporcionalmente maior ) e alguns curiosos que se podem deslocar, visto que só têm que pagar o preço ( quase sempre baixo ) do bilhete;
- As empresas de palco e som, normalmente tem a sua sede nestas cidades, ou seja os encargos são menores;
- As proprias empresas organizadoras destes espectáculos, sediam-se também nestas cidades, e basta olhar para as suas figuras, e logo percebemos que não são pessoas que gostam de abdicar da sua “centralidade”.
Por tudo isto, as cidades não-Porto-Lisboa são preteridas, apesar dos esforços a que são submetidas para conquistar espectáculos. A título de curiosidade, descrevo algumas das privações que os Conimbricenses vão estar sujeitos no dia do espectáculo:
- Entram 60 camiões de espectáculos numa cidade com 100 mil habitantes, o que vai obrigar ao corte de trânsito nas principais vias de acesso ao estádio;
- Irá receber 30 mil pessoas ( um terço da população residente ) na sua cidade, implicando a lotação a um Sábado à noite, de restaurantes, bares e cafés.. hotéis, residenciais, motéis e bordéis.
- Irão ser cortadas, das 16 horas às 00:00 de Domingo quase todas as principais vias estruturantes da cidade;
- Os autocarros, serão preferencialmente destinados aos portadores do tal bilhete que lhes dará o ingresso ao espectáculo;
No entanto, ainda não registei qualquer tipo de crítica, aborrecimento ou ingratidão, de um único habitante desta cidade ( mesmo os que não vão ao concerto ). Porque não se importam de andar a pé ( a cidade até é pequena, apesar de topograficamente instável ), de demorar 3 horas para jantar e esperar 30 minutos para arranjar mesa num café, de regressar de autocarro ( lotados ) do emprego ( os que trabalham ao sábado ), de não poder ir brincar com os filhos ao parque da cidade ou levá-las ao centro comercial... porque sabem, querem e desejam isto! Sempre souberam, sabem e continuarão a saber receber os visitantes do Porto e de Lisboa que agora terão que desembolsar quantias astronómicas para “fazerem a festa”
Agora são os habitantes do Porto e de Lisboa que serão as pedras a rolar pelo país, em busca da “centralidade” de Coimbra.
Ficamos ( todos sem excepção ) embevecidos quando por exemplo, o Zé Pedro dos Xutos ( que tocam de graça para poderem estar ao lado dos Stones, que têm o cachet inacreditável de 1 milhão de euros ) afirma que:
“Para mim, como amigo de Coimbra, sócio da Académica e na inauguração do novo estádio, tudo isto é um prazer enorme”. Para mim também, mas não sou o Zé...
Por tudo isto este concerto vai deixar saudades...porque é o último...porque é em Coimbra. E porque Coimbra é também minha!