Maio de 93...Jardim da cidade de Coimbra...01.00 ....Queima das Fitas...
Foi um daqueles momentos, em que gostaria de não ter mudado nada!
Concerto bestial, os gajos vestidos de preto ( ainda não tinha desaparecido o Richey James... ), luzes brancas ( nada de cor...mas os gajos nem são suecos! ), e o “Motorcycle Emptiness”.
Anos depois sai o álbum HolyBible.
Estranhamente, ou nem por isso, é o único que não tem letras em estilo Arial, nem a frase de comando na sub-capa, nem muito menos um estilo convencional de rock-punk que até aí tinham adoptado. Mas fazia referência a um livro de Octave Mirbeau “O Jardim dos Suplícios”, e possuía um trecho escrito em inglês que me aguçou o apetite.
Comprei-o ( o livro ) numa livraria ( em 98 ), por mero acaso, e, depois de consultar umas revistas de especialidade.
Estou a falar de um livro de "bolso" 16x12 cm, azul escuro do tipo calças de ganga ( não gastas ), e com letras a dourado.
Basicamente descreve a história de um tipo solitário, que conhece, numa festa ( acho eu! ), uma rapariga por quem se apaixona. Decide partir com ela para uma viagem à China, num cruzeiro.
O livro, de uma forma mordaz, fantasia exaustivamente sobre os jardins chineses, e introduz-lhe o factor campos de concentração! Ou seja, era nestes espaços que se praticavam, na sua história, os actos de tortura. Entre relatos fabulosos, onde por oposição está presente a maravilha e o esplendor da natureza, e noutro o horror dos actos de barbárie... eis que me deparo com um diálogo entre os personagens, em que, e a certa altura, não compreendendo como uma mulher poderia elogiar tais actos ( de tortura ), obteve como resposta:
"(...) És obrigado a demonstrar respeito por pessoas e instituições que pensas serem absurdas. Vives preso num estilo cobarde a convenções morais e sociais que desprezas, condenas, e que sabes não terem qualquer tipo de fundamento. É essa permanente contradição entre as tuas ideias e desejos e todas as formalidades em desuso e vãs pretensões da tua civilização que te fazem triste, preocupado e desequilibrado. Nesse intolerável conflicto tu perdes toda a alegria da vida e todo o sentimento da personalidade, porque em todos os momentos eles suprimem e restringem e verificam toda a liberdade dos teus poderes. É essa a venenosa e mortal ferida do nosso mundo civilizado.(...)"
Sou um desrespeitador por natureza. Estou-me nas tintas para as convenções morais que desprezo e condeno, e que sei não terem qualquer tipo de fundamento.
Até hoje, tento viver cada momento como se fosse o último, alegremente, sentindo sempre que posso, e tentando “gritar” o mais alto que consigo.
Sendo original, acho que o Blog poderá ser mais uma tentativa de cura!
Como que uma vacina que se exige, para tapar a ferida que é o nosso mundo civilizado...
E continuo a ouvir Manic Street Preachers! "ganda grupo pá, ganda concerto!"