Uma passagem rápida por coisas importantes
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publicado por Mimosa, em 09.12.03 às 02:29link do post | favorito

 

*Peço que façam um esforço para conseguirem chegar ao fim!

Passou uma semana, após o 2º Congresso da Ordem dos Arquitectos…Já reflecti o suficiente para poder aqui, dar o meu contributo ( sempre pequeno ) e expôr o que se passou…
Não é que interesse muito ao comum dos mortais, porque esse bicho do “arquitecto” há muito que é considerado “persona non grata” na sociedade portuguesa. Ou antes, “o gajo até percebe umas coisas” mas “é muito caro”. Cabe-me aqui, desmistificar, e aproveitar o facto de estarmos a “festejar“ o Ano da Arquitectura ( o quê?Não sabiam? ), para dar a conhecer o que esse bando de desgraçados andaram a conspirar.

Basicamente, os arquitectos andam a tentar revogar um decreto-lei – o célebre 73/73 – que permite ( de uma forma muito resumida ) em disposição transitória ( que passou a permanente, já lá vão 30 anos ), que as Câmaras Municipais ( entidade que licencia os chamados projectos de arquitectura ), aceitem em determinadas condições ( que não esclarece quais ) projectos da autoria de técnicos sem a qualificação profissional adequada.
Posso adiantar, que em toda a Europa, não existe um único país, onde este direito…sim, direito…à arquitectura – tema do Congresso “O Direito à Arquitectura” - , não esteja salvaguardado nos dois sentidos: o do arquitecto e o do cidadão.

Porquê agora, se já existe há 30 anos ( perguntam aqueles que conseguiram chegar ao terceiro parágrafo )?
Porque em 1969 existiam pouco mais de 500 arquitectos inscritos. Neste momento, e em 2003, existem 11.000 associados. Desta forma, a oferta de formação académica é muito maior, e existe ( pensava eu, e já explico! ) uma maior sensibilidade por parte da sociedade civil, em relação às questões do território e da “nossa” arquitectura.

Pensava eu, porquê? Para meu espanto, deparei-me no dia 27 de Novembro, com um estudo encomendado pelo Diário de Notícias e Ordem dos Arquitectos, em que fazia um inquérito à sociedade civil…Entre algumas curiosidades e gargalhadas, deparei-me que 50% das pessoas em Portugal não sabe o nome de nenhum arquitecto português! NENHUM! Nem o Taveira…Já não peço o Siza Vieira, meu Deus! ( não sou católico fervoroso, mas é para realçar o meu espanto! ). Depois, só 15% dos portugueses é que recorreram alguma vez a um arquitecto. No entanto, quando lhes perguntam se acham que o trabalho dos arquitectos portugueses é globalmente positivo, 65% diz que é muito positivo…ou seja, não conhecem nenhum, nunca recorreram a ninguém, mas…ouviram dizer “que são gajos porreiros e até fazem umas cenas giras!”. Finalmente, e quando pediram para referir uma obra de arquitectura que tinham como referência…16% ( a maioria ) referem a Ponte Vasco da Gama ( excelente obra de arquitectura?? ), os estádios quase todos ( claro! ) e só 5% referem o Pavilhão de Portugal.

Dá que pensar o esforço que estamos ( estou! ) a fazer em matéria de divulgação e abertura ao debate público nestas condições. Alguém questiona, quando tem uma dor de dentes, a ida ao dentista? E toda a gente está fartinha de saber que os dentistas são caros, certo? Se existirem uns técnicos que sabem dar a anestesia e pôr um alicate num dente ( não é bem isto o que são os desenhadores técnicos e os engenheiros, mas é para enfatizar a questão! ), as pessoas recorreriam a estes, só pelo facto de serem mais baratos? Põem lá a sua boca?? Se a resposta for negativa, esclareçam-me o porquê, de darem as suas casas a técnicos não qualificados, só pelo facto do preço do projecto ser menos 30, ou 40%. Numa obra de 30 mil contos, a diferença do preço de um projecto, não faz qualquer sentido. E, a longevidade do dente “chumbado”, não é de facto o mesmo! E, pelo menos, conhecem o nome do vosso dentista…
Como se costuma dizer…”cada macaco no seu galho”! O que não tem necessariamente, que ser um galho melhor, o do arquitecto. Até porque, neste momento, não o é...

Outro ponto que me dá que pensar, foi a constatação de que, no lado oposto – do nosso lado! - estivessem 350 arquitectos nesse Congresso num círculo de 11.000 inscritos, numa altura em que está “na mesa do Sr Ministro” a “pasta da revogação deste decreto”. Isto tudo após a entrega de uma petição com 55.000 assinaturas na Assembleia da Republica, que foi aprovada por unanimidade. Ou andam-se todos a “cagar para o mais projecto menos projecto”, ou então ( e é a minha opinião pessoal ), como 67% dos arquitectos têm menos de 40 anos e são trabalhadores dependentes, não puderam ou não quiseram prescindir de 2 dias de trabalho, numa altura de crise…e pagar 16 contos de inscrição…e 2 dias de refeições…e de alojamento…e de copos!

Estamos por isso, numa altura de grande viragem, apesar de alguns arquitectos nem o saberem. Temos responsabilidades acrescidas, mas muitos desconhecem-nas.
É o momento de colocarmos a arquitectura e a cidade, no centro de uma estratégia global de desenvolvimento do nosso país ( pareço o outro! ). Com os nossos parceiros profissionais, com a opinião pública, com os cidadãos, e com os 10.650 arquitectos que faltaram.

A energia que é necessária para conseguir estabelecer esse Direito à Arquitectura, ultrapassa largamente a minha capacidade individual.

Cabe-nos defender a arquitectura e o território como parte integrante da nossa identidade, enquanto país. Paremos de olhar para o nosso umbigo ou para a casa do vizinho, que “nem é grande merda”! Temos que, como em outras situações, querer o melhor de/e para nós, para depois podermos exigir que o “cabrão do vizinho, não me ponha o galinheiro junto ao muro!”.

Cabe-nos a nós arquitectos exigir das entidades públicas, mas também de nós próprios. Mas cabe-nos também, depois deste ano e deste congresso, demonstrar que tudo isto não foi sinónimo de uma batalha corporativista fechada, mas que transcende tudo isso, para garantir a todos os portugueses o acesso aos direitos da nossa Constituição e que passam pela arquitectura e pelo ordenamento do território. Tudo isto é um sonho que convoca o nosso... o vosso... e o meu esforço, dedicação e visão do mundo. Só o alcançaremos, com arquitectos responsáveis e cidadãos exigentes.

Eu, estou a ser responsável por isto que escrevo…agora, sejam vocês exigentes.

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Por: Mimosa


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