A PORTAGEM
Começou oficialmente o meu ano de trabalho...
Dirigi-me por isso, e pela primeira vez este ano, para o escritório! Fui ali pela Fernão de Magalhães, e apanhei a primeira fila de trânsito do ano. Pacífica! Parei nos semáforos, e “arranco” ao sinal verde em direcção ao estacionamento privado que me foi “oferecido”. Pressiono pela primeira vez em 2004, o comando que me confere a oportunidade de ficar dentro do carro...enquanto espero pela primeira vez que o portão da garagem se abra. Nada...Tento outra vez...nem se mexeu. Olho para o comando, e a luz vermelha não se acendia ( onde é que já ouvi isto? )...
Não tinha pilha...ou antes, a validade da pilha-do-comando-que-abre-portões tinha expirado no ano de 2003. A única reclamação que faço sobre isto: Podiam ter avisado!
No entanto e por ser o primeiro dia, pensei em estacionar o carro “no lado de lá da ponte”, refugiando-me no pretexto de poder olhar pela primeira vez – como tanto gosto – o “postal” da minha cidade, atravessando a Ponte da Portagem *a pé, no sentido Poente/Nascente.
Vou em direcção aos estacionamentos improvisados e, como sempre, sou imediatamente “aconselhado” a estacionar em determinado local por um determinado indivíduo com um determinado tipo de chapéu! Obtive logo um lugar de destaque em 2004!
O homem, dos seus 50 e tal anos, 1,60 m, de barba por fazer, e com aquele chapéu de profissional do estacionamento - que supostamente lhe confere um ar mais credível na altura do “mais para trás, mais para trás...aaaaaaaalto!Está bom!”-...como eu ia a dizer, o homem fica ali bem juntinho ao carro, como que se refugiando nos vapores quentes que saíam do motor.
Saco da carteira, e arranquei com 30 cêntimos ( eram as únicas moedas que tinha...costumo dar 50 aos gajos com bonés deste tipo, e 1 euro aqueles que se babam ). Saio do carro, tranco a porta e chamo-o:
- Ó chefe ( tenho a mania de tratar os gajos profissionais dos assuntos especiais por chefes )...só tenho estas moedas.
- Ok – disse, estendendo-me a mão! – Até loguinho!
O mais engraçado disto tudo, é que ele estendeu-me a mão para me cumprimentar, ao mesmo tempo que me tirou as moedas da mão, enquanto me dava o “passô-bem”.Foi no mínimo estranho....
O que me leva a escrever este desabafo, não foi tanto a alegria de constatar que a minha cidade às 9 da manhã está igualmente linda comparativamente aos anos transactos, mas antes o facto de, durante essa mesma viagem vir a pensar no “porquê de me ter que justificar ao chefe, pelo facto de ter poucas moedas!”Mas porque é que uma pessoa que, a despeito de fugir aos estacionamentos pagos do lado nascente da cidade e opta por fazer 1 km a pé até ao seu local de trabalho, ainda tem que pagar aos chefes? E pior..porque é que se justifica?
Acho bem que se pague alguma coisa aquele homem..até porque de facto, ele está a fazer um bom trabalho na organização espacial ( aquele descampado leva agora muitos mais carros do que em 2003 – altura em que ele não trabalhava neste local )...Mas porquê eu? E porquê já este ano?Porquê hoje?~
*A palavra portagem, e a acepção deste nome à própria ponte, surgiu pelo facto desta ser a única passagem sobre o Rio Mondego que existia na altura em que Coimbra era a capital do Reino. Não sabiam que também foi?Pois é...
Por este motivo cobravam um imposto às pessoas e mercadorias, que por ali atravessavam. Será que este homem, é um antigo cobrador do dízimo?